Viegas é eloquência, seus filisteus de merda


Que isto não passe por ironia! Viegas: o senhor que usou no tempo e no propósito certos as palavras que todos ouvimos. E ouviu-se alto e bem, como a política de gabinete não ousa falar. Ouviu-se o «tomar no cu», ouviu-se o Relvas a aceitar o «tomar no cu» em prol da liberdade de expressão (há que lutar e sofrer pelos princípios em que acreditamos, é isto a democracia), mas ninguém ligou um cu às razões para invocar o vernáculo. E ninguém ligou porque é jeito do discurso político burocraticamente correcto deixar o nervo vital fora do debate. Se andar toda a gente a dormir na rua, se ninguém achar que se violam princípios fundamentais nas leizecas que se aprovam por força maior, se andar toda a gente virada para o Estado com o cu e o coração nas mãos, se o tédio alastrar, a política torna-se o maior soporífero intelectual de uma sociedade. Quem nos salvará então?
Aparentemente, o vernáculo. Não todo e qualquer, mas aquele que, por liberto do mofo das atençõezinhas de conveniência, faz tremer pela sua elegância bruta, pela pose descarada mas sincera, como uma prostituta que se ajoelha no altar e reza com o coração mais franco da paróquia. As beatas estremecem de terror perante a cena; as suas muitas saias pretas de folhos e contra folhos escondem pecados bem mais tenebrosos que os prazeres da carne. E ao pensar «maldita puta» desfiam mais uma vez as contas do rosário.
Em defesa de Viegas, note-se que o uso da formulação brasileira «tomar» em vez da portuguesíssima «levar» é evidente deste cuidado literário atribuído ao vernáculo. Reforça a troça. Nunca será o insulto gratuito a que recorre o discursozinho da treta quando escapa da frágil moldura civilizada que o sustem. Pensar ter sido esse o intuito do autor é, por si, insultuoso. A quem? À nossa inteligência.
Mas nesses ataques estão os nossos office boys públicos muito bem instruídos.


publicado em 15.02.2013