por falar em Nietzsche


Já não gosto do Natal. O folclore de luzes e prendas e música no coração que marcava as consoadas da minha infância deixou de me entusiasmar. Acabo de chegar a casa e tento esquecer esta época que agora significa para mim pouco mais que estudo, mau tempo e um estado de deriva que o corte abrupto com a rotina provoca sempre. Chateio-me. Estas noites são terríveis, não convidam à conversa, nem entre copos. É difícil ficar a conhecer melhor as pessoas, stressadas com o protocolo natalício, e acabo por me lembrar que só em Fevereiro volto a ter uma rotina (gostava de perceber a relação que tenho com esta palavra). Está tanto frio para conversar que preferimos ficar a ouvir pela milésima vez a “All I want for Christmas is you” ou o caralho, do que arriscar e dar aquele primeiro passo no arame a pensar “here goes nothing”. E chego a casa e leio os jornais que se foram empilhando durante a semana (grande crónica do Lomba no Público de ontem, grande reportagem do i sobre as lolitas portuguesas), e consulto os emails pela trigésima vez hoje e penso “não posso ver um filme a estas horas porque amanhã tenho que estudar e ajudar a minha mãe a arrumar a casa, e por a mesa, e lavar o cão” (temo que a minha escapadinha a Braga para  beber licor ecomer bananas tenha que ficar para o ano, com muita pena…). Vou escrever qualquer coisa no shakira. Mas, foda-se, amanhã é véspera de Natal, vou escrever sobre o quê? Lá acabo por ouvir uma música do Glen Miller para entrar no “espírito” – estou com muita preguiça para lutar contra o establishment. Amanhã vingo-me e venho para aqui escrever sobre as parecenças entre aqueles estandartes com o menino Jesus e a bandeira nacional-socialista.
Bom Natal.


publicado em 24.12.2009