Nunca houve um quinto elemento. Foi sempre uma busca inútil
pois nunca houve, sequer, um quarto. Um quinto elemento, a existir, seria uma
negação de todos os outros: não seria mais que o próprio vazio. Terra água ar.
Terra negra (▲) que cobre e reparte. Água
branca (▲) que lava e purifica. Ar rubro (▲)
que folega e enleia. O fogo não é como os outros três. Antes, é a sua potência,
em cada um a perene combustão que compõe e permite e o ciclo. Das três aves. Nigredo: faz as vezes da morte e vêm-nos fechar as
pálpebras, levanta-nos o manto dos ombros e cobre-nos com as asas; depois vêm
dores insuportáveis enquanto nos desmembra, desarticula, desmaterializa,
desespera; mas a nossa súplica sai muda: uma pena negra nos olhos, outra nos
lábios; com misericórdia nos reduz aos destroços que merecemos. Albedo:
a branca, vem para nos cegar, para desarmar todos os sentidos; e as memórias da
terra apagam-se; sibila mas não há palavras, nem música; apenas suaves
redemoinhos de luz, na corrente que abraça os despojos e que, ao passar, vai
levando a mácula rio abaixo. Rubedo: três vezes vermelho sangue, o
sopro, o pulso, o fôlego; bater as asas para voltar a fechar o punho; que cria
e substancia a vontade neste efeito: levantar o que sobra, agarrar as vestes,
aspirar a brisa que sopra (que sussurra) a caminho de —— Por estes artifícios
se completa e se renova o ciclo. Tudo se passa no fogo da retorta: no fogo que
arde e que é caro aos homens; no fogo que lava e que chega com o tempo; no fogo
que sopra e que surge, simplesmente surge, e é o mistério da ressurreição.
publicado em 05.04.2013