Huntington


Este autor foi-me ontem dado a conhecer pelo director do Público, no seu editorial, onde escrevia sobre a crise no Médio Oriente, tendo como mote a imagem que acompanha a notícia de capa da The Economist desta semana: uma foto que mostra dois autocarros em Inglaterra vandalizados por membros de uma associação ateísta, e onde aparece escrito: “Deus provavelmente está morto. Não te preocupes, goza a vida”. José Manuel Fernandes insurgia-se contra esta posição de passividade irresponsável face ao mundo que nos rodeia, fazendo a ponte com a política externa seguida pelas potências regionais (e mundiais) com responsabilidades directas ou indirectas no conflito israelo-palestiniano.
A propósito, JMF refere o trabalho de Samuel Huntington, cientísta político norte-americano, e a obra que o tornou famoso “The Clash of Civilizations”, onde o autor advoca a tese segundo a qual a ordem mundial pós-guerra fria se baseia na convivência entre diferentes civilizações (sete, para ser preciso) e que eventuais conflitos, a ocorrerem, terão explicação em antagonísmos culturais e não ideológicos, como se havia verificado durante todo o século XX. Huntington defende que, para compreender e intervir nestes conflitos, o focus da análise deve centrar-se nas incompatibilidades sócio-culturais dos intervenientes, remetendo o jogo estratégico-político do Estado para segundo plano (ao contrário do defendido por Francis Fukuyama, pupílo de Huntington, na sua obra mestra “O Fim da História e o Último Homem”).

O director do Público criticava o aspecto eminentemente “estadual” que a intervenção da comunidade internacional tem na tentativa de apaziguar o conflito, e a incapacidade de estas políticas se elevarem ao patamar civilizacional. Finalizava, com isto explicando o título do editorial da The Economist,  “The hundred years’ war”.


publicado em 13.01.2009