Carnaval


Não há Carnaval em Hong Kong. Não é de estranhar. O Carnaval festeja o absurdo e o bizarro, e para esta cultura o único absurdo é a existência da absurdidade. Depois há a cara. Perder a face significa perder a honra. Para preservar a honra pode ser preciso criar uma máscara e usá-la a tempo inteiro. Uma máscara invisível, claro; uma visível seria mal vista porque esconderia a cara, que é a face da máscara invisível. Isto é bizarro, mas como aqui a bizarria é mal vista, pela mesma lógica, esta é uma questão invisível. E ninguém fala disso. Acho que foi o Confúcio que condenou as coisas bizarras. O Confúcio era um gajo excêntrico que tinha uma visão bizarra de um mundo em que não existem coisas absurdas. Coisas como a vida e o Carnaval.


publicado em 07.03.2011